Robôs de reciclagem estão a aprender lições da IA e da indústria de transformação

Desde há muito que a indústria de transformação tem estado a utilizar robôs para fazer o trabalho que, de outra forma, demoraria muito mais tempo se fosse feito por pessoas. Mas, e se essa mesma tecnologia pudesse ser aplicada à indústria da reciclagem? O Reino Unido gera 290 milhões de toneladas de resíduos, e embora hoje em dia reciclamos mais do que nunca, 9,6 milhões de toneladas daquilo que colocamos no lixo ainda acaba em aterros. Isto deve-se, no mínimo em parte, ao facto de ser demasiado difícil para as pessoas que trabalham em centros de aterro e para a tecnologia atual separar todo o material reciclável proveniente de aterros. É aqui que a tecnologia robótica e a aprendizagem automática entram em jogo.

Há décadas que as fábricas de transformação têm estado a utilizar processos de automação e nos últimos anos têm estado a tirar partido das técnicas de aprendizagem automática para melhorar ainda mais a eficiência das suas linhas de produção. As mesmas técnicas de aprendizagem automática estão agora a ser utilizadas para ensinar robôs separadores de resíduos para identificarem e separarem materiais recicláveis municipais. Estes robôs artificialmente inteligentes são a obra da AMP Robotics, a qual tem estado a colaborar com um centro de resíduos nos EUA para testar e otimizar os seus sistemas robóticos para poderem “retirar” a reciclagem da mesma maneira que os seres humanos o fazem atualmente.

Este sistema robótico utiliza câmaras de luz visível para enviar as imagens a um computador, permitindo essencialmente ao robô “ver” e identificar os materiais recicláveis. O robô, batizado Clarke em homenagem ao autor de ficção científica Arthur C. Clarke, utiliza software de inteligência artificial (IA) que lhe permite compreender o espaço que o rodeia. Clarke é capaz de calcular o número de diferentes tipos de embalagem que passam numa cinta transportadora, identificar as marcas dessas embalagens e estimar os pesos. Pode parecer que isto não faz muito sentido, mas quanto mais informação Clarke aprenda, mais capaz é em identificar objetos que está a ver. Além disso, o conhecimento que o robô adquire é então utilizado para ensinar outros robôs, o que significa que podem aprender uns dos outros e tornar-se mais precisos e eficientes. Atualmente, Clarke é capaz de retirar uma média de 60 artigos por minuto, ao passo que os seres humanos são capazes de retirar até 80 por minuto, mas geralmente durante períodos de tempo curtos antes de que se cansem e baixem o ritmo, pelo que a média manual está mais próxima de 40 por minuto.   

A maior mudança para estes robôs reside no software que aplica as técnicas de aprendizagem de IA a sistemas de visualização, semelhantes às capacidades presentes em veículos autónomos ou no reconhecimento facial do Facebook para fotos. O robô propriamente dito foi fabricado pela empresa internacional ABB Robotics e, fora o software, não é diferente dos utilizados em linhas de produção atuais, o que significa que os avanços podem ser implementados com relativa facilidade e rapidez uma vez testados e otimizados. Isso, todavia, ainda está longe, já que atualmente Clarke só é capaz de retirar caixas mas o objetivo é alargar isto a todo o tipo de materiais recicláveis e mesmo a contaminantes.

Idealmente, o objetivo seria substituir os seres humanos por robôs, evitando problemas como cansaço e lesões, e produzindo volumes de retirada mais altos e mais consistentes. Inovações como esta têm amplas repercussões para a indústria da reciclagem; em termos económicos, gera mais de 10 mil milhões de libras ao ano e emprega mais de 30 000 pessoas. Mas o mais importante, naturalmente, é o impacto ambiental, com robôs artificialmente inteligentes que nos permitem aumentar e melhorar as nossas capacidades de reciclagem como sociedade.