O salto quântico: Procurando a internet do futuro com os olhos no céu

A internet é uma parte indelével das nossas vidas modernas. Desde as compras online às operações bancárias pela internet, precisamos de acesso rápido e mais importante ainda, seguro e privado, à internet. A tecnologia de fibra ótica que atualmente suporta a nossa rede de internet percorreu um longo caminho, mas ainda apresenta limitações. Embora as técnicas de segurança que utilizamos atualmente sejam as formas mais seguras disponíveis para realizar transações online, ainda existem fraquezas que a poderiam deixar vulnerável. É por este motivo que o satélite chinês, Micius, poderia anunciar uma nova era.  

Lançado em agosto de 2016 a partir do deserto de Gobi, o Micius, batizado em honra de um filósofo e cientista chinês, está numa missão de proporcionar canais de comunicações invioláveis usando as leis da ciência dos quanta. Os cientistas chineses por detrás do Micius estão a trabalhar no sentido de criar uma rede de internet muito mais segura. A rede atual que mantém privados os nossos dados financeiros online está protegida pela matemática, mas a rede do futuro estaria protegida pela física e seria simultaneamente extremamente segura e extremamente rápida. A privacidade quântica significara que a "chave" da encriptação utilizada para ocultar a nossa informação sensível seria muito mais difícil de quebrar. Embora a criptografia quântica possa ser conseguida utilizando as redes de fibra ótica que temos no solo, a distância é um problema.

A nossa configuração atual de internet baseia-se em redes de cabos de fibra ótica, que são ideais para a transmissão de partículas de luz amigas dos dados. No entanto, os cabos de fibra ótica monomodo, geralmente utilizados para a transmissão de dados de internet, só são adequados para distâncias de aprox. 100 km. Isso não é mau, mas significa que redes como a de 2000 km que liga Pequim a Xangai precisam de repetidores a cada 100 km. E, de acordo com os cientistas, é aqui que reside a vulnerabilidade aos hackers quânticos do futuro. Anteriormente, as ligações quânticas tinham sido estabelecidas em distâncias de transmissão semelhantes, com um recorde de 143 km. O Micius estabeleceu com êxito uma ligação quântica de 1200 km entre o espaço e a Terra, superando qualquer ligação anteriormente conseguida entre os dados tradicionais de internet e as ligações quânticas. Ser capaz de enviar dados por satélite permitirá que os dados sejam enviados ao longo de grandes distâncias e abrir assim possibilidades de comunicação nunca antes vistas.

A ideia é que o satélite Micius primeiro proporcionará comunicações quânticas entre o espaço e a Terra, antes de demonstrar comunicações quânticas transcontinentais entre a China e a Áustria. A intenção é estabelecer a futura internet quântica mundial e criar uma rede de comunicações quânticas até 2030, suportada por uma constelação de satélites e a atual rede de fibra ótica em terra. Mas a internet via satélite não está reservada apenas para as redes quânticas do futuro – a European Aviation Network (EAN) tem estado a ser construída desde 2009 com o objetivo de permitir que os passageiros se possam ligar à internet durante o voo. O satélite mais recente, lançado a partir da Guiana Francesa, funcionará em conjunto com um sistema de torres de telemóvel no solo e antenas em cima da aeronave, fazendo com que o wi-fi esteja disponível em aviões em toda a Europa. O sistema deve estar instalado até ao final deste ano.

Embora uma rede quântica ainda esteja a alguns anos de distância, os cientistas envolvidos sugerem que uma futura internet quântica poderá ser utilizada para criptografia segura, teletransporte instantâneo de informação quântica e para ligar redes de fibra locais de internet quântica. Muito além das vantagens de ter uma internet mais rápida e poder partilhar informação de forma segura online, a internet quântica podia abrir as portas a uma grande quantidade de tecnologia baseada na internet e ferramentas de comunicação.